terça-feira, janeiro 23, 2007




(((A "dieta" neoliberal que leva fome à África)))

Em 2005, uma crise de alimentos abalou Níger. De uma população de 12 milhões, 3,6 milhões sofreram com a fome e 800.000 crianças enfrentaram a desnutrição. Ativistas alertaram que a fome não foi causada pela seca. "Esta é uma fome estrutural. Uma fome permanente", disse o jornalista Moussa Tchangari. "Ela foi causada por 20 anos de programas de ajuste estrutural".

Segundo o Famine Early Warning System (FEWS), financiado pela USAID (United States Agency for International Development), a produção agrícola ficou apenas 11% abaixo da média de cinco anos e foi, de fato, mais alta que os níveis de 2001-02, quando não houve crise de alimentos. O problema real, de acordo com o FEWS, foi que os preços dos alimentos subiram entre 75% e 80%.

Moussa Tchangari diz que: "A raiz do problema é que por mais de 20 anos as políticas neoliberais têm sido impostas a nosso país. As instituições financeiras internacionais estimulam a agricultura de exportação, de modo que agora não temos produzido o bastante para alimentar a população."

Como muitos países africanos, Níger foi pressionado pelo FMI, pelo Banco Mundial e pelas agências de desenvolvimento da União Européia para que desmantelasse os serviços públicos e que substituísse sua agricultura de subsistência por uma agricultura de exportação.

Em meio à fome, Níger continuava a exportar comida. Milhões de famintos e dezenas de milhares de crianças morriam enquanto os mercados estavam cheios de comida que eles não tinham recursos para comprar.

Nos primeiros meses da crise, o governo do país e o Programa de Combate à Fome das Nações Unidas se recusaram a distribuir comida para o povo porque isso interferiria no livre mercado -- segundo eles, uma condição necessária para Níger sair da miséria.

Tchangari acredita que os problemas de Níger foram causados exatamente por esse modelo de desenvolvimento e que o país necessita de um método diferente. "A solução é implementar uma política agrícola que possa assegurar a auto-suficiência de alimentos. Isso é possível... É uma questão de vontade política."

Veja/baixe um vídeo sobre esse tema.

(((Tradução livre de artigo originalmente publicado em Big Noise Films))

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quarta-feira, janeiro 17, 2007






z.

Tropeçando pelos hiperlinks, tropeçando...

Assim descubro a série de fotos acima, num blog que promete trazer o melhor e o pior da internet. Curiosa salada de coisas... links que não acabam mais... tropeços garantidos.

Desde a cara das celebridades antes da fama até o que há de mais estúpido e original em tatuagens.


y.

Na verdade eu procurava um disco do At The Drive-In. Achei um clipe muito legal, naquele mesmo blog, no qual os caras falam da violência contra as mulheres em Ciudad Juarez, no México. Impressionantes números de crimes não solucionados... e o cheiro da cumplicidade das autoridades locais. De quebra, os caras denunciam a existência das fábricas "maquiladoras" na fronteira com os EUA: mais uma artimanha do capital para reduzir custos, se reproduzir e continuar sua marcha de exploração sobre os mais fodidos. Grande tema, grande som, grande clipe.

x.

nãO sei como, mas no caminho me deparei com um álbum do The Durutti Column, um projeto-banda de um cara chamado Vini Reilly, na estrada desde os anos 80.

dE cara o nome me chamou a atenção: uma referência a Coluna Durruti, uma milícia capitaneada pelo lendário anarquista espanhol Buenaventura Durruti durante a guerra civil (1936-39).

umA grata surpresa: um disco do ano passado, chamado "Keep Breathing". ouçO agora, agora... trabalho sofisticado, cheio de atmosferas intimistas, viajantes...

nO blog onde catei o álbum há um link pra baixá-lo.

w.

Mais música: pra quem gosta do universo indie(gesto) [indigesto é esse trocadilho!], o Indienation traz mostras de produções recentes (embora tenham mandado muito bem oferecendo uma "velharia" que não deixa de soar absurdamente bom: Joy Division).

v.

pois é... tropeçando.


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sábado, janeiro 13, 2007

e lá vem aquela velha de novo me encher o saco...

não... não vem pra cá!
mas vem.
uma velha, olheiras enormes, crateras na face gordurosa, crostas de seborréia entre ralos cabelos.
- senh...hmmmm... por...hm,,mm... favô....hmmmm....um trocadin...hmmmmm#### ... $$$... tenho doenç.....ói...ói...
levanta a blusa, mostra as costas, a barriga... cheias de verrugas purulentas...
e eu digo que
não... não tenho... foi mal...
o chiado raivoso do rádio.
sexta-feira quente de verão noite rio avenida rodrigues alvez.
pavuna, madureira, gramacho, belford roxo, piabetá...
o meu não vem.
o meu parece que nunca vem.
genérico da valda, 30 centavos...
bananada açucarada, 10...
vêm trocadoras de ônibus com batom barato, sorrisos cinzas, cigarro-pigarro.
vilar dos teles, xerém, paracambi, sepetiba...
e a porra do meu não vem, nunca vem.
e vem o cachaceiro, catando latas, guimba de cigarro pendendo na boca desdentada, olho amarelado, catarro petrificado no bigode crespo.
e a moça suburbana, calça colada, sobe linda no irajá...
e nada do meu, nada.
nova campina, cabuçu, nilópolis, guadalupe...
e o ar se torna pesado, a vida me esmaga,
as pessoas vêm, as pessoas vão...
e eu me martirizo numa existência crítica sem o meu, que não vem,
e eu não vou, eu estaco, eu paro, e não me movo.
queimados, santa cruz, éden...
o vendedor de bala sobe e vai, a velha com bolsa de mercado sobe vai, o garoto com uniforme de bombeiro sobe e vai...
e eu que não sou nada, que não vou, que não subo, que não sumo, que não vendo balas nem tenho verrugas purulentas nas costas...
coelho neto, nova iguaçu, realengo, marechal hermes...

camelô, camarada, me vê a tal bananada,
guaraná natural, amendoim japonês,
me vê, me vê...

o quê?!

olha o meu! olha o meu!

faz sinal! faz sinal!

putaqueopariu...
pu-ta-que-o-pariu...
passou, passou, passou...

e lá vem aquela velha de novo me encher o saco.


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literapaudura

à tua literatura,
que se quer literapura,
contraponho
minha literadura.
inchada,
cabeçuda,
pero sin perder la ternura.

(da série "micropunhéticas")



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quinta-feira, janeiro 11, 2007

Um camarada dos velhos tempos contou uma boa. Compartilho com minha meia dúzia de leitores:


Jesus, preocupado com a situação das drogas, reuniu seus apóstolos para traçar uma espécie de Plano Celestial Anti-drogas:

-- Meus irmãos, devemos acabar com esse mal que destrói a vida dos meus filhos: temos que acabar com as drogas. Quero que vocês desçam à Terra e tragam todas as drogas, livrando o mundo desse terrível mal -- disse o cabeludo.


Dito e feito, pouco depois batiam na porta da casa de Jesus Christ Superstar (segundo nas paradas, atrás dos Beatles).

Toc, toc, toc...

-- Quem é? -- perguntou JC.

-- É Pedro, meu senhor.

-- Entre. O que você trouxe?

-- Trouxe toda a maconha do mundo.

E Pedro deixou toneladas de toda a maconha do mundo num canto da casa de Jesus.


Em seguida, foi a vez de Paulo.

-- O que trouxe, Paulo?

-- Trouxe toda a cocaína que encontrei, chefe. Farinha pra cacete!

E Paulo colocou uma montanha de pó num dos cantos daquela santa casa.


Depois de um tempo, batia outro à porta. Era João. Ele veio com todo o ácido que encontrou no planeta.


Horas depois, batiam outra vez na porta de Jesus.

Toc, toc, toc...

-- Quem é? -- perguntou Jesus.

-- Aqui é Judas -- respondeu lá de fora o traíra.

Então Jesus abriu a porta e perguntou:

-- O que trouxe pra mim, Judas?

-- O que eu trouxe?! Eu trouxe a polícia, manezão! ...Aê, rapaziada, pode prender que esse aqui que é o dono da boca!

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sexta-feira, janeiro 05, 2007

Zumbi do Mato - O alien que veio pro espaço

e o Caetano Veloso... "quero um potinho de anhããããããnha".

2007, 2007...

não... prefiro falar de "velhos" tempos. dar prosseguimento ao TPAA90. ãh?! agora é parte II.

e é com muito carinho que eu falo do Zumbi do Mato.

como se fosse hoje, sim, como se fosse hoje...

posso ver aquela tosca fita K7 demo na minha mão, comprada num porão udigrudi, lá pelos anos 90. chego em casa e boto o troço... putz, mó legal!

coisas já andam fazendo 10 anos, né chefia? nostalgia-sedex: chegando ligeira.

o Zumbi foi uma das melhores coisas que eu ouvi na minha vida. um experimentalismo genial-hilário, que dá de dez a zero em qualquer experimentalismo posudo, música dodecapentelhofônica, esquisitices percursivas de hermetos e pascuais... geniais, sem dúvida, mas quase sempre chatas.

não, não... pra que comparar? paro por aqui.

o que é o gosto, afinal? ó, o gosto? o que é o belo?

o Belo eu sei quem é... o cara que pega a Viviane Araújo.

mas, deixa quieto... estou me desviando do alien que veio pro espaço... do Zumbi!

não estou com saco de fazer micro-biografias, nem consultar os largos anais do underground carioca, mas, no feeling, puxando pela memória macarrônica, o Zumbi do Mato surge num contexto que eu me lembro bem. bandas como Sex Noise, Poindexter, Planet Hemp surgindo, O Rappa idem, Second Come, Pelv's, Piu Piu e Sua Banda...

(e a minha banda, que nunca foi pra frente, podia estar na lista também... fazê o quê?)

havia uma cena interessante, altos e baixos, como sempre. zona oeste/zona norte. lona de Campo Grande, Garage, Circo ainda parecendo circo.

mas Zumbi se destacava pelas letras inspiradas, poesia-peido de odor marcante. no instrumental, o salutar desdém às guitarras e a vibração de teclados retro-progressivos, com cólicas psicodélicas, barulinhos noiados, bateria e baixo em linhas tortas com lordose. e o vocal magnífico, fanhoso, encatarrado. genial!

e o que é o gosto a não ser o que alguns críticos (os eternos artistas frustrados) julgam ser apropriado?

eu digo que Zumbi do Mato foi uma das melhores revelações da música popular brasileira, extravasando as fronteiras do roquenrol.

a posteridade dará o devido valor a versos como "vai chupar cocô pra ver disco voador/hecatombe intestinal/beuzebu é maioral", "eu e meu pão com mortadela olhando o céu azul", "gosto do flamengo porque é vermelho e preto/por isso gosto de ruiva quando pinta o cabelo de preto", "fica molhada que eu quero meter"... lindo!

os clipes que postei são de músicas daquela demo dos anos 90. os caras atravessaram a década, estão na ativa, mas privilegiei esse início aí, essas músicas que agora ganham as imagens. naquele tempo não tinha youtube...

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Zumbi do Mato - Potinho de Anhanha

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terça-feira, janeiro 02, 2007

"SOMOS TODOS IRMÃOS, e, no entanto, a cada manhã, este irmão ou esta irmã fazem para mim os serviços que não desejo fazer.

SOMOS TODOS IRMÃOS — e no entanto preciso a cada dia de charuto, de açúcar, de espelho e de outros objetos em cuja fabricação meus irmãos e minhas irmãs, que são meus semelhantes, sacrificaram e sacrificam sua saúde; e sirvo-me destes objetos, e até os reclamo como meu direito.

SOMOS TODOS IRMÃOS — e no entanto ganho a vida trabalhando num banco, ou numa casa de comércio, num estabelecimento cujo resultado é tornar mais custosas todas as mercadorias necessárias a meus irmãos.

SOMOS TODOS IRMÃOS — e no entanto vivo e sou pago para interrogar, julgar e condenar o ladrão e a prostituta, cuja existência resulta de todo meu modo de viver e a quem não se deve, como sei, condenar ou punir.

SOMOS TODOS IRMÃOS — e vivo e sou pago para recolher impostos dos trabalhadores carentes e empregá-los para o bem-estar dos ociosos e dos ricos.

SOMOS TODOS IRMÃOS — e sou pago para pregar aos homens uma suposta fé cristã, na qual eu mesmo não creio, e que os impede de conhecer a verdadeira fé; recebo salário como padre, como bispo, para enganar os homens nas questões, para eles, mais essenciais.

SOMOS TODOS IRMÃOS — mas não forneço ao pobre senão por dinheiro meu trabalho de pedagogo, de médico, de literato.

SOMOS TODOS IRMÃOS — e eu me preparo para o assassinato; aprendendo a assassinar, fabrico armas, pólvora, construo fortalezas e por isso sou pago."

(Tolstoi em "O Reino de Deus Está Dentro de Vós").

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