quarta-feira, dezembro 27, 2006

Radiohead - Lucky (Live)


e 2006 se vai...

um som para viajar.

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sexta-feira, dezembro 22, 2006



I.

sim... é natal.

no tal
natal
notas de real.

ruas intransitáveis, lojas abarratodas, engarrafamentos sufocantes.

nos shoppings, velhas senhoras com bolsas coloridas, crianças barulhentas, filas enormes, banheiros cheios de merda...


2.

já podemos ouvir os sinos das renas...

papai noel acorda às 5h, mora em um município da baixada fluminense.

logo cedo pega a kombi lotada para o centro da cidade. lá pega um busum pro centro do Rio. a essa hora o coletivo já está cheio e ele tem de encarar a viagem em pé.

no centro, pega um metrô (igualmente cheio) pra zona sul.

a risada inconfundível de papai noel anuncia sua chegada: rou, rou, rou...

no shopping, veste sua roupa tradicional.

no segundo piso, perto da praça de alimentação, ele faz o seu plantão diário.

e ele fica ali, horas e horas, recebendo criancinhas mimadas da burguesia carioca. bundas e mais bundas sentam no seu colo. moleques escrotos enchem seu saco. madames esnobes dirigem as fotos com autoritarismo: "ô, meu senhor! dá pra ficar mais pra trás! assim não aparece o pedro lucas!".

anoitece e ele não tem noção disso, pois os shoppings são feitos para as pessoas perderem a noção do tempo. não há tempo e a exigência é ficar sempre em movimento. são poucos os locais de parada, de descanso. se há descanso, ele é capitalizado em lucros: na praça de alimentação, pais e filhos sentam seus traseiros roliços e devoram a carne de minhoca do mc'donalds.

no final do dia, papai noel está todo quebrado. vai voltar pra baixada. seu trenó é da ciferal e sua rena se veste com camisa azul de botão e calça de tergal.

rou, rou, rou...

é natal!


C.

pois é... o natal.

paira no ar uma densa neblina de consumismo e futilidade.

símbolos artificialmente transplantados para a realidade local.

o haiti e o pólo norte são aqui.

no cerne de toda a hipócrita ladainha sentimental, o interesse mal disfarçado da indústria, do comércio, das multinacionais.

e o mundo da propaganda vira o local apropriado para as utopias. o mundo feito pelos publicitários é perfeito.

um mundo que não parece tão "utópico", afinal, pois está inserido no nosso velho modo de produção/modo de ser capitalista: não precisamos transformar absolutamente nada!

um mundo em que os bancos não se parecem com bancos; em que celulares são aparelhos indispensáveis à sobrevivência da espécie; em que se vivem "beautiful moments" pagando por caros planos de saúde.

curioso que quando alguns se arriscam a falar de sociedades mais justas (realizáveis mediante a transformação/implosão de um modo de ser/produzir simultaneamente suicida e genocida) são logo taxados de "lunáticos", "cabeças de vento". suas utopias são relegadas ao ridículo, ou embaladas à vácuo para consumo espetacularizado: "é chique ser rebelde".

parece que os revolucionários, os poetas, os filósofos, os que buscam tranformações devem virar publicitários. a publicidade é o lugar da utopia, do sonho, do projeto de sociedade ideal. pois no mundo da publicidade não há miséria, não há favela, não há desigualdade social, não há racismo, não há autoritarismo...

no mundo da publicidade, um banco não é uma instituição historicamente afinada aos interesses de uma elite, disposta a extorquir somas de seus clientes com taxas abusivas, com juros exorbitantes; as empresas de telefonia não estão a todo instante desrespeitando o consumidor, passando por cima de uma fiscalização frouxa e cobrando os olhos da cara para as pessoas se comunicarem; e um plano de saúde não fere um princípio básico que toda sociedade deveria seguir: atendimento médico-hospitalar sendo direito de todos, tudo de graça e com qualidade.

o pior é que o alcance dessa idéias é fenomenal. as pessoas assumem todos esses valores, entoam o hipnótico mantra do consumismo e fazem todo o resto do serviço sem reclamar. nenhum revolucionário conquistou tantos militantes!

é isso, revolucionários! para serem levados a sério, entrem para o mundo da publicidade: o único lugar onde vocês podem sonhar os sonhos mais estapafúrdios e ainda ganhar dinheiro com isso!

rou, rou, rou...


qUATRO.


encerro este post natalino com uma bela canção de natal.

abaixo vai a letra e um link pra quem quiser acompanhar o som/imagens.

é pra cantar com força, com espírito de natal!

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"Papai Noel Velho Batuta"
(Garotos Podres)

PAPAI NOEL filho da puta
Rejeita os miseráveis
Eu quero matá-lo
Aquele porco capitalista
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres
Presenteia os ricos
E cospe nos pobres

(repete primeira estrofe)

Mas nós vamos sequestrá–lo
E vamos matá-lo
Por quê?

Aqui não existe natal
Aqui não existe natal
Aqui não existe natal
Aqui não existe natal

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Vídeo

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domingo, dezembro 17, 2006



Mulheres... mulheres que tocam em bandas de rock.

PJ Harvey.

Manuseia a guitarra, a voz.

Cresce ouvindo blues... John Lee Hooker, Muddy Waters...

Oito anos aprendendo saxofone.

Delgada menina de olhos claros.

Sob um céu azul saltos de agulha em pedais de distorção.

Marca a cena indie dos anos 90.

Eletrificada musa.

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PJ Harvey - Dress Live Big Day Out 2003

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domingo, dezembro 10, 2006



1.

Mulheres, mulheres de papel...

"De Betty Boop a Druuna", texto de Álvaro de Moya, número 2 de Morbus Gravis, história de 85, lançada aqui em 96:

"Tudo começou na década de 30. Betty Boop surgiu nos quadrinhos e nos cinemas de animação. Resultado: censurada. Jane era uma tira diária nos jornais ingleses que fazia um strip tease por dia."

Madame Dragão, Barbarella, Jodelle...

Valentina, magnífica pin-up de Guido Crepax.

Sexo, drogas e rock com Crumb.

Carlos Zéfiro e os "catecismos" dos 50-60.

Álvaro de Moya cita muitos nomes.

Sexorama, Lucifera, Miss Eros...

Fala do grande Milo Manara.

Até que outro italiano, de Veneza, chamado Paolo Eleuteri Serpieri, cria Druuna.

"Druuna é Barbarella que comeu muito spaghetti...", diz Moya.

Não... ela é muito mais do que isso.





2.

Um mundo doente, um mundo lascivo.

Os que estão sofrendo da doença são jogados na cidade subterrânea.

Vi Druuna falar com a mutante hermafrodita que lhe começou a despertar a consciência.

A mutante conta que Shastar foi à Cidade Acima e descobriu "a verdade".

A mutante alerta: "Pense nos sacerdotes! Eles sabem da 'verdade' e fazem uso dela para ficar no poder! Nós precisamos saber...".

A ingênua e nua Druuna responde: "Mas só os sacerdotes conhecem os desígnios do mestre! Ele é a nossa única certeza! Foi o que aprendi!".

Mas a bela Druuna não é tão inocente: ela não diz que está escondendo Shastar. "Não posso confiar em ninguém! É perigoso demais!", pensa ela.







3.

Paolo Eleuteri Serpieri. Italiano de Veneza. Deu aula de anatomia no Liceu Artístico de Roma. Não à toa desenha corpos com tamanha habilidade. Com 20 e poucos começou a desenhar histórias de western. Faz uma "Histoire du far West en BD" para a editora francesa Larousse. Para a mesma editora desenharia, mais tarde, a Bíblia.

No início dos anos 80 lança uma história curta de ficção científica: "Forse", publicada na revista Orient Express.

"Sete páginas de um casal nu em idílico relacionamento, atacado por 'monstros', lembrando um conto genial de Frederic Brown: Sentinela.", segundo Álvaro de Moya na introdução do número I de "Morbus Gravis".

Em dezembro de 1985, lança o primeiro capítulo de "Morbus Gravis" na revista L'Eternauta. Uma figura feminina, "quase uma índia de dorso" (comenta Moya), rouba a cena: Druuna.





4.

Druuna... aaah, Druuna.

Na primeira vez que vi Druuna, ela ia ao centro médico, no setor médio, em busca de uma dose do remédio para Shastar.

Naquele mundo inóspito, habitado por mutantes disformes, seu corpo perfeito sobressaía como uma flor que brota do caos, como um sopro de vento no calor do inferno, como um hálito doce na boca podre do destino da humanidade.

Um mundo no qual sacerdotes fabricavam a versão oficial da história, decidiam quem sobreviveria, quem desceria aos esgotos do nível inferior e quem subiria à Cidade Acima.

Apenas observava o caminhar de Druuna, corajosa mulher, buscando mais uma dose para seu amado, trocando seu corpo pelo alívio fugaz da droga, o bastante para que Shastar pudesse se livrar de sua disforme aparência mutante para se deliciar em seus seios fartos, vulva voraz, nádegas sagradas...






5.

O dr. Ottonegger controla a emissão de doses.

Ele é apenas um tentáculo, uma expressão do poder maior.

Ele fornece as doses em troca do corpo macio de Druuna.

O velho e impotente Ottonegger acopla uma máquina do sexo, uma espécie de pau biônico, e manda brasa.

Sexo anal.

Druuna sente o drama... mas gosta.

Consegue oito doses para seu amor, Shastar.

...

Pé na Amélia!

Druuna que era a mulher de verdade.





6.

É no contato social que Druuna desperta do transe, toma consciência.

Na fila do centro médico, conversa com uma velha careca com cara de punk. A velha comenta que cada vez menos gente vem ao centro médico. A suave Druuna repete a versão oficial: "Claro! Os que não estão doentes são enviados imediatamente pro nível superior".

A velha punk retruca: "Você ainda acredita nesse papo furado? Lá não tem mais espaço! Todo mundo é mandado aos níveis inferiores... ao inferno... pra alimentar mutantes!".


7.

Na verdade, os o sacerdotes são robôs com cabeças humanas implantadas. Shastar, de volta a sua forma humana, revela isso a Druuna. Ele a leva à Cidade Acima.

No eleveador, Druuna tem de matar seu amor: o remédio já não faz mais efeito. Mutações o transformam num monstro perigoso. Druuna dispara um tiro no coração. Lágrimas rolam.

O Mestre estabelece contato telepático. Conta a ela que o computador chamado Delta, simbioticamente atrelado a ele, assumiu o controle da cidade, elaborando uma teoria religiosa para apagar vestígios da verdadeira história.

Para sobreviver, Delta retira energia de corpos selecionados, os não atingidos pela doença.

Druuna sofre o impacto da verdade: os mais saudáveis é que sobem à Cidade Acima para servir ao Delta. Ela poderia estar ali...

Ela vê o Mestre... na verdade, uma cabeça cheia de eletrodos, conservada num aquário.

Ele conta que Delta chegou à conclusão de que a matéria é má, e entrou num processo de autodestruição que levará toda a cidade.

Druuna argumenta que é possível fugir. Mas o mestre diz que não, e lhe mostra a verdade.

Da janela Druuna vê o universo...

A cidade é uma nave, na qual o que restou da espécie humana partiu em busca de um novo mundo, deixando para trás a Terra devastada.

Ao computador foi confiada a procura do caminho. O Mestre havia sido o primeiro comandante, mas Delta tomou seu lugar. E a mente cibernética foi contaminada por uma doença que transformou a nave, a cidade, num monstro vagando pelo infinito espaço.





8.

Mutantes apodrecidos querem a carne lisa de Druuna,

a carne que redime, que revigora, que dá vida aos moribundos.

Todos querem Druuna...

eu quero Druuna.

Mulher-heroína, mulher-vício.

Pele morena...

morena pequena morte.


[[[[{{{{Viagens e infos baseadas na parte 1 de "Morbus Gravis"}}}}]]]]

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sábado, dezembro 02, 2006



"Planet Caravan"...

e no ar uma mistura de aguardentes coloridas,

fumaças cuspidas,

tua-minha-nossa vida.

O carro não pára e eu dirijo sem olhar pra ontem.

Temos algumas notas amassadas, alguns maços de cigarros amarrotados, algum resto de torta de limão no canto da boca.

A noite passada que foi sorvida de forma fugazmente eterna, no etéreo, no stereo, no éter.

Capas de CD no porta luvas denunciavam trilhas perigosas, cartões de crédito lambidos, corisas pálidas.

Algo novo naquela foda nova, renovada, aditivada pelo vinho, pelo haxixe, pela coca.

E eu ainda ligado, guiando por estradas curvadas, olhando de soslaio tua coxa-curva, não paro o carro, não posso parar.

Há uma mão de ruína que pousa em meu ombro esquerdo.

Coisas loucas deixadas para trás.

Por isso correremos. A estrada à frente. Teu corpo e teu sangue.

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