quinta-feira, julho 27, 2006


sa-sa-sabotagem.

que bacana, que legal!

era um dos meus sites preferidos até sair do ar.

lá peguei uma pá de livros "de grátis"...

e o melhor: livros que não eram de domínio público, coisas relativamente novas.

eis que, navegando pelo CMI, vejo que o coletivo sabotagem tá na praça, com uma pá de coisa bacana (além dos e-books).

a proposta:

"O Coletivo Sabotagem responsabiliza a industria cultural pelo conteúdo publicado neste site. Se não vivessemos sob um sistema essencialmente excludente estes conteúdos não estariam aqui."

muito bom, rapaziada!

mutcho bom!

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segunda-feira, julho 24, 2006

"O peso do mundo é o amor.
Sob o fardo da solidão,
sob o fardo da insatisfação


o peso
o peso que carregamos
é o amor.


Quem poderia negá-lo?
Em sonhos nos toca o corpo,
em pensamentos constrói um milagre,
na imaginação aflige-se
até tornar-se humano


-sai para fora do coração
ardendo de pureza
-pois o fardo da vida
é o amor,


mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor [...]


quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos,
ou por máquinas,
o último desejo é o amor[...]"

(Ginsberg)

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amor
amo-te

a morte
amortece
a dor

amortecedor

amor
tece
a dor?

pra que rimar
amor e dor?

..........................................................

amor é como um jogo...
se quiser entrar nessa, pelo menos saiba perder.

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"Porque eu te amo, tu não precisas de mim. Porque tu me amas,
eu não preciso de ti. No amor, jamais nos deixamos completar.
Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários."

(Roberto Freire)

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sexta-feira, julho 07, 2006


Milo Manara...

mil maneiras de fazer...

deusas.



suaves siluetas saborosas.



naturalmente desnudas, as deusas de papel passeiam alheias aos olhos... nossos olhos.



Manara é Zeus... suas filhas habitam quadrinhos quentes, sorridentes... profanos.

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terça-feira, julho 04, 2006



tem aquela história da emenda, do soneto...

às vezes a emenda sai pior que o soneto...

não é isso?

mas pode sair melhor, né não?

bom... vou adaptar aqui: os comentários saíram melhor que o texto porque trouxeram à tona coisas que o meu panfletarismo verborrágico deixou de lado. mas são coisas que eu, de verdade, não boto de lado.

mas tem o lance da escrita automática: o texto saiu meio no ritmo frenético de quem faz um panfleto. bebop, charlie parker...


***

sobre marx...

não sou marxista porque... vejo em marx alguns germes de autoritarismo que uma posterior leitura quadrada pode supervalorizar (e, de fato, fez isso, vem fazendo e alguns não param de querer fazer... ); determinada arrogância no debate político e intelectual e... acho que só isso (pelo menos que eu me lembre agora...).

mas não posso ser "antimarxista", ou seja, desconsiderar a importância do seu legado. foi um gênio. deve ser sempre lembrado, utilizado, atualizado... sou fã de marxistas ou de ex-marxistas que trabalharam as suas idéias de uma maneira genial: thompson, marcuse, jameson, castoriadis, guerin, raymond williams...

sobre a questão da dialética, perfeito. não sou especialista, sou só um ranheta, li pouco, falo muito, mas posso dizer que, pelo pouco que sei, era isso mesmo: "uma superação dialética (o q é completamente diferente de progresso linear)".

a dialética é maior que o próprio marx. vejo dialética no pouco que li sobre taoísmo, sobre hinduísmo... enfim, sobre qualquer modo de encarar a realidade em suas contradições, suas múltiplas determinações. (falei merda?)

como não tenho base, não posso entrar numa discussão séria (he he he... maneira canastrona de tirar o corpo fora), mas tive a impressão, em algumas passagens que li, que há, em Marx mesmo, esse investimento na infalibilidade das leis da história. mas aí é como disse: talvez sejam os "textos mais políticos", talvez não seja o "jovem marx", talvez seja o engels, talvez ele estivesse sendo panfletário como eu...

o certo é que as leituras mais mecânicas (tipo stalinismo, estruturalismo marxista...) que são de doer.

o lance é que marx, dialeticamente falando, foi tudo isso aí: gênio, proto-ditador, revolucionário, arrogante, humanista, centralizador... etc, etc, etc.

e se ele foi tudo isso, foi humano. e se foi humano, errou. e se errou, merece crítica.

só escolho, às vezes, o lado que me incomoda, aquele trecho de texto que me soa mal aos ouvidos e... bato um pouco no marx. ele é forte, parrudão, tem anos de tradição e um exército de fortes seguidores. o poder acadêmico, intelectual e polítco do marxismo é considerável. marxistas tiveram um mega-estado na mão, gráficas, sistemas de propaganda e distribuição. bater no marx é muito difícil ...

mas acho que tem que bater mesmo assim porque, na minha visão, ninguém merece a tranquilidade da mumificação.

mas não custa lembrar: se não há um marx (já que o cara escreveu de maneira caótica, deixou temas em aberto e, mesmo assim, tem um pensamento riquíssimo), não há um só marxismo.

eu faço a minha divisão. tem um marxismo redondo (marxismo skol?), aberto, vivo e bom pra ser parte de uma tradição socialista que propõe um projeto alternativo de sociedade (contracultural... pois contrário à cultura hegemônica, ao modo de produção capitalista).

e há o grupo dos marxistas-quadrados, dogmáticos, sectários, que investem em coisas que, até que me convençam do contrário, podem ser prejudiciais. coisas que, a história comprova, fizeram mal.

***

e sobre a burguesia, o progresso...

peguei os "elogios" do Manuscrito para, maleficamente, armar o meu texto e ilustrar com um trecho fora de contexto. fiz como muitos jornalistas safados (alguém aí falou 90% da categoria?) que descontextualizam declarações e publicam tudo menos o que você disse.

é óbvio que os progressos da burguesia são coisas com que todos, não só marx, se admiraram. anarquistas, comunistas, socialistas... todos, afinal, são (forçando muito a barra aqui na expressão) filhos do iluminismo.

se a gente acompanha o trajeto do conceito "revolução", a gente entende que foi a classe burguesa uma das reponsáveis pela idéia de que é possível superar, revolucionar, instaurar um novo.

rompe com a noção do tempo cíclico. e aí a idéia da evolução, do progresso... porra, a burguesia foi foda. toda a idéia de liberdade...

sim, despertaram o germe. agora aguenta!

o germe da destruição pra mim está mais na divisão em classes, na questão do explorador-explorado do que nos grandes feitos. por isso, vejo com maus olhos interpretações mecânicas que fizeram a cabeça de comunistas que viam a revolução em etapas: primeiro desenvolvem-se as forças produtivas, depois as contradições... às vezes tenho uma visão muito mais caótica da história, ainda que certas relações possam (e devam) ser feitas.

é possível interpretar a realidade... mas é necessário transformá-la.

não dá pra negar a razão, cair no irracionalismo. não dá pra negar a história, o materialismo, a dialética.

"fim da história" uma ova!

a contracultura que foi ou que seja contrária ao lado positivo do progresso perde a virulência de contracultura.

tá certo... o termo é poluído. entra na mente um bando de riponga, baseado na mão, querendo criar galinha na serra...

embora nada tenha contra o baseado na mão, gosto de entender contracultura como o que diz a palavra: uma cultura contrária a uma outra, em geral hegemônica.

socialismo, nas atuais circunstâncias, é contracultura. ou estou viajando demais?

mas aí a gente teria de discutir o conceito de cultura e... blurururgfhfhrgrgrhfgftrtrgftrjghjh!!!

chega! se não eu piro!

talvez o texto tenha focado a crítica ao progresso como apelo ao (impossível) retrocesso.

melhor seria entender a critica aos "males do progresso", propondo usos mais benéficos das técnicas, ciências, saberes etc.

não tem mais volta... não deve ter. acho que o marcuse e outros iluminam bem isso aí... mas tô com preguiça de pegar o livro e catar uma citação.

e se há sabedoria num modo de vida mais "primitivo", como o dos índios ou de antigas comunidades, por que não fazer uma re-leitura de pontos adaptáveis à nossa realidade?

se não quisesse um avanço, algo para melhor, creio que poderia jogar toda a noção de progresso pro lixo e virar um "involucionista". mas isso não quero, não posso querer...

aí vem o que foi dito muito bem:

"Pelo que sei, Marx faz sim, no Manifesto Comunista, um elogio declarado à burguesia. Não sei quanto à visão linear da história, mas ele de fato via o advento do capitalismo como um avançar nas condições da humanidade, que possibilitaria o desenvolvimento das forças produtivas, o que, a longo prazo, faria com que a humanidade pudesse se libertar, embora relativamente, das leis da natureza. Isso tem a ver, inclusive, com a sua visão de liberdade. A liberdade, em Marx, não é a liberdade de se sujeitar às leis da natureza, mas justamente a liberdade de tomar certa independência com relação a estas leis, de poder "jogar com a matéria". Isso não tem nada que ver com um elogio da destruição do planeta que é engendrada pelo Capital. Inclusive, pelo pouco que li, Bakunin sustentava uma visão parecida, quando afirmava que o homem só se emancipa progressivamente no seio da sociedade, e que só o trabalho coletivo é que pode realizar a liberdade. Sobre o progresso, acho que não se trata de fazer voltar as antigas relações tribais, pré-capitalistas, mas de avançar, de dar um passo a mais..."

emenda melhor que o soneto.

***

afinal, foram reflexões de porta de birosca: rápidas, ligeiras e gordurosas como coxinha com caldo de cana.

muito obrigado pelos comentários.

serão sempre bem vindos.

e... viva marx... groucho marx!




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segunda-feira, julho 03, 2006



A.

Viciados em progresso, os Estados-nacionais (em associação com as mega-corporações-quase-Estados) vêm promovendo, há tempos, um dos mais acelerados processos de degradação do planeta.

Nenhuma novidade... (Aliás, o blog aqui é feito de coisas óbvias).

Os mitos da história linear, do evolucionismo social, do nacionalismo e da suposta infalibilidade da razão ergueram justificativas de aço, contra as quais se contrapuseram vozes discordantes, que logo eram isoladas em ilhas de "insanidade", "atraso" e "utopia".

Lembrando Marcuse, um dos aspectos mais perturbadores da sociedade industrial desenvolvida é justamente o "caráter racional da sua irracionalidade".

Se liga só:

"[...] no período contemporâneo, os controles tecnológicos parecem ser a própria personificação da Razão para o bem de todos os grupos e interesses sociais -- a tal ponto que toda contradição parece irracional e toda ação contrária parece impossível". [ver "Ideologia na sociedade industrial". Zahar, 1969, p.30].

E o cara disse isso lá nos anos 60...

Hoje vemos que pouco se faz para frear o apetite cancerígeno do modo de produção capitalista. Os EUA não se incomodam em passar por cima do protocolo de Kyoto; o Japão argumenta que não pode parar de caçar baleias por "questões culturais"; e os cínicos teóricos das benesses da civilização ocidental já recuperam, com novas roupagens, as licenças científicas mais estapafúrdias para fazer valer a superioridade dos valores ocidentais.

E por aí seguem devastações ecológicas, genocídios de Estado, terror e insatisfação.


B.

O espectro do século XIX não deixa de nos rondar...

Não consigo parar de farejar imperialismo, colonialismo e teorias raciais mal disfarçadas por filosofias culturalistas.

Na virada XIX-XX, parecia impossível nadar contra a corrente do progresso defendido pelos entusiastas da modernidade. (Como ainda hoje parece improvável a iconoclastia dos ícones do mercado...).

Os positivistas creditavam-se papéis de sábios iluminados, cavalgando no cangote incontestável da ciência. Com base em leituras capciosas das teorias de Darwin, um bando de ávidos intelectualóides da conservação não tardou em aplicar as idéias de "seleção natural" para o meio social. Assim, haveria aqueles seres humanos mais aptos a liderar a humanidade no caminho que iria das trevas à luz (olha o Iluminismo aí também jogando mais areia nesse caminhão).

Poucos, na época, contestaram o mito do progresso. Os que fizeram foram taxados de atrasados, lunáticos, irrealistas.

Kropotkin foi um dos que se indignaram com a afirmação de que, no mundo natural (e, por extensão, no social) tudo é competição. Ainda que imerso no cientificismo de seu tempo, ele ressaltou que, para a sobrevivência das espécies, valem muito mais os exemplos de solidariedade e cooperação. Esse é o tema central de seu "Ajuda Mútua".

Até Marx e os marxistas prestaram como ninguém homenagens à modernidade ocidental. No Manifesto Comunista, uma idéia constante: o capitalismo iria se reproduzir, dolorosamente, mas seria “progressista” e favorável à ascensão da classe revolucionária. A crença na infalibilidade das “leis da história” e a dificuldade em lidar com as descontinuidades faziam com que o mais famoso texto das esquerdas, pelo menos em alguns trechos, fosse um rasgado elogio à burguesia. Se para o socialismo marxista a fase capitalista era historicamente necessária (o que levou Engels a vibrar com a vitória estadunidense na guerra contra o “atrasado” México), valia a pena encarar como "leis" infalíveis o desenvolvimento industrial e a subjugação da natureza pelo "homem racional".

Sente o drama:

“[A burguesia] demonstrou o que a atividade humana pode realizar. Construiu maravilhas maiores que as pirâmides egípcias, os aquedutos romanos e as catedrais góticas. [...] a burguesia logra integrar na civilização até os povos mais bárbaros. [...] Durante sua dominação, que ainda não completou um século, a burguesia desenvolveu forças produtivas mais maciças e colossais que todas as gerações anteriores. Dominação das forças da natureza, maquinaria, aplicação da química na indústria e na agricultura, navegação a vapor, estradas de ferro, telégrafo elétrico, desbravamento de regiões inteiras [...]”. [“Manifesto do Partido Comunista.”].

C.

Após a Revolução Russa, parece que todos os projetos de sociedade deviam passar por uma centralização desmedida, que quase sempre desembocava numa burocratização do poder e eliminava qualquer participação política mais efetiva do povo.

Tanto o stalinismo totalitário, quanto os fascismos, ou o Welfare State de Roosevelt pós-crise de 29... Tudo levava a crer que as alternativas necessariamente viriam pela institucionalização pelo alto, pelo poder forte, pelo planejamento estatal... Enfim, pela tecnocracia.

Como a base para o bem-estar era medida por índices como crescimento econômico, tecnologia e industrialização, a propaganda tecnocrática girava em torno do "saia do carro, ligue a TV, abra a geladeira e engula qualquer tipo de contestação".

Mas o santo progresso acabou levando todos para mais uma hecatombe (2ª Guerra), além de trazer a sombra incômoda da aniquilação nuclear.

E é no pós-Segunda Guerra que aquelas vozes isoladas começam a se tornar mais espessas. O conforto e a tecnologia não respondiam mais aos anseios dos que queriam mais liberdade, mais prazer, mais humanidade. Ideologias "retrógradas" começaram a fazer mais sentido do que o vazio angustiante de termos que adornavam genocidas em pele de estadistas.

Afinal, tinha-se "liberdade" ou dessublimação repressiva, controlada, manipulada? "Democracia" ou um sistema bem urdido para diluir qualquer participação política mais incisiva? "Igualdade" ou os ditames de um bando de "iluminados" centralizando tudo num partido de burocratas?

Se o apelo a uma forma de existência diferente parecia fazer voltar a roda da história (o que é impossível para quem trabalha com a lógica de que ela é feita de leis e de que anda pra frente), então é justamente o "pré-político" que vem deixar o legado mais marcante para sacudir o pó das velhas ladainhas da esquerda. "Pré-político" porque os sábios de esquerda entendem “política” como um desenvolvimento linear, que vai de uma "consciência sindical" a uma "verdadeira" consciência revolucionária, necessariamente amparada pelo partido, pela ditadura do proletariado, pelo Estado superinflado da eterna "fase de transição" -- onde confortavelmente se acomodaram os ditadores de vermelho.

Aqui, nada como atiçar o velho Bakunin em seu túmulo. Fala, garoto:

"Um partido conduzido por uma vanguarda levará à formação de uma aristocracia governamental que recomeçará a explorar e subjugar os trabalhadores a pretexto de que assim age para a felicidade comum ou para salvar o Estado, um Estado ameaçador, ditatorial e ainda mais absoluto porque seu despotismo se esconderá sob a aparência de um obsequioso respeito à vontade do povo”.

Incapazes de um rompimento mais radical com a lógica iluminista e positivista, os sábios de esquerda não abalam as estruturas do sistema representativo, do Estado, do sufrágio universal, do partido político... reproduzindo/reforçando em seus sistemas essas instituições históricas (que, como tudo que é histórico, têm nascimento, desenvolvimento e podem morrer), quase como leis naturais inabaláveis.

Como bons herdeiros do positivismo, arvoram-se na "verdade" de sua teoria. Alternativas a esse modelo são "anti-científicas", "utópicas", "doenças infantis"...

Como contestá-los se partem de pressupostos tão cimentados? (Aliás, para toda contestação eles mandam logo o rótulo de "ideologias pequeno-burguesas").

D.

Todas essas micro-reflexões de porta de birosca (incompletas, escorregadias, inconstantes...) me vieram à mente depois que vi a ilustração que reproduzo acima, bem característica do que os pensadores da contracultura chamaram de "tecnocracia".

Em linhas gerais, tecnocracia resume uma forma de administração social calcada nos valores mais caros da modernidade: "progresso", "civilização", "ciência", "tecnologia", "Estado"...

No auge da guerra fria, tanto o capitalismo (o mosquito ianque) quanto o "socialismo" (o mosquito de foice e martelo) reproduziam-se tendo como base discursos bem semelhantes – e igualmente sugavam os recursos naturais da mãe terra sem muita cerimônia.

O "inseticida" vinha como alternativa a essas culturas... daí seu apelo contracultural.

Uma alternativa incômoda, crítica, que vinha enchendo o saco desde fins do século XIX, mas que fora, como disse, sufocada pelos ideólogos dos dois Estados mais totalitários da história (subliminarmente totalitários, já que criaram um imaginário social que vomitava palavras-anestésico como "liberdade", "socialismo", "democracia", "igualdade", "bem-estar"...).

Uma alternativa que se reforçou nos movimentos de contracultura dos 50/60/70, na releitura do pensamento oriental, na exigência de uma política cotidiana (democracia direta), na fé em modos menos repressivos de viver (comunidades, amor livre)...

De fato, um legado que foi mastigado, digerido e cagado de maneiras absolutamente distorcidas pela indústria cultural, pelas máquinas-de-fazer-mitos do sistema... mas ainda assim um legado necessário, urgente, que deveria alimentar a contestação atual.

Um legado não morto, não dogmático, não tido como infalível, não elevado ao status de "pensamento de vanguarda", não arrogantemente rotulado de "científico" (como se a ciência fosse garantia de alguma coisa claramente melhor).

Um “legado-parangolé” (fala, Hélio Oiticica!), pra ser reconfigurado, reatualizado, recontextualizado...

Um inseticida que vale como lança-perfume utópico: é preferível ficar alegre-chapado cheirando esses sonhos-sementes (que, por que não?, podem germinar) do que se paralisar-anestesiar com a egoísta cocaína neoliberal do "fim das ideologias" ou com a vodka dogmática das múmias do esquerdismo senil.

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