I.
porcos, porcos, porcos capitalistas.
continuam a nutrir sua lógica ilógica,
sua racionalidade irracional,
seu modo de vida suicida.
um imaginário social arraigado, que de certa forma anda por si só, haja vista a concordância da maioria silenciosa.
alta capacidade de reprodução, de convencimento... capital: uma relação social.
porcos no céu...
II.
quando bate a onda nostálgica... fodeu.
e saudade do que nunca viu?
estou viciado nessa parada de baixar discos.
é extremamente prático, relativamente barato e, numa só tacada, burla e alimenta os porcos que enchem a pança.
burla de leve a indústria fonográfica, que perde alguns milhõezinhos na venda dos discos.
mas ainda assim alimenta com bilhões os mesmos barões da indústria fonográfica, inseridos no grande banquete da indústria cultural, que agora lucram com softwares, computadores, tocadores de mp3, provedores e outras milhares de coisas.
ou não se ligaram nas mega-fusões tipo aol-time-warner?
não jogam pra perder...
prova que nada é tão simples... tudo está marcado por complexidades... e a luta só pode se dar nessa teia de contradições.
III.
como já comentei, ando consumindo muito uma droga chamada Pink Floyd.
altamente psicodélica.
deve ser a tal onda nostálgica.
há ondas, marés...
e essa onda de baixar discos está me levando a coisas antigas, mofadas nas fitas k7 perdidas (ou vice-versa).
IV.
mais uma coisa sobre contradições: o resultado das urnas.
vejam quantas abstenções, votos nulos e brancos.
se não me engano o número dos que não escolheram ninguém para presidente tirou o 3º lugar. ficou na frente até da Heloisinha Paz e Amor.
no caso de senadores e deputados, grande percentual para nulos/brancos.
não foi à-toa a grita dos porcos da política, da justiça, do legislativo... os atores canastrões que interpretam bem seus papéis pseudo-racionais nesse sistema irracional. eles gritavam: "não abram mão do seu direito", "o país está em suas mãos"...
qualquer pessoa um pouco mais exigente/consciente enxerga que o sistema democrático burguês, tal como está, não faz representar verdadeiramente a vontade da coletividade. é centralizado, é viciado, é construído para absorver impactos e debelar a radicalização da própria democracia.
o ruim é que muita gente elegeu o nulo/branco/abstenção como um ato de revolta localizada ou passageira... ou pior: como expressão de um niilismo total, sem cagar e andar pra nada, num individualismo selvagem que só deixa os porcos mais gordos.
no final das contas, ainda permanecem na lógica da democracia representativa, não enxergam outras formas de organização social, de política, de modo de vida. carecem de mais (contra)informação, haja vista toda a mistificação feita pelos porcos-intelectuais e porcos-especialistas do porco-consenso.
e grande parcela da esquerda que ainda se diz "revolucionária" não abre mão de antigas convicções teóricas. e muitos, sejamos sinceros, gostam mesmo do poder, têm orgasmos com a cadeira de rei, têm vaidades com a faixa presidencial, com o Estado. eles amam o culto à personalidade e sempre dispõem de um bando de porquinhos teimosos e barulhentos que adoram devorar cartilhas vermelhas. oinc, oinc, oinc...
V.
"Os homens estão dispostos a ser prestáveis até ao momento em que têm poder". (Vauvenargues)
"Os detentores do poder ficam tão ansiosos por estabelecer o mito da sua infabilidade que se esforçam ao máximo para ignorar a verdade". (Pasternak)
"A ânsia de poder não é originada da força, mas da fraqueza". (Erich Fromm)
"A política... há muito tempo deixou de ser ciência do bom governo e, em vez disso, tornou-se arte da conquista e da conservação do poder". (Bianciardi)
VI.
acabo de ouvir "A saucerful of secrets"...
é curioso por estar na transição: saída de Syd "porraloca" Barret, entrada de David Gilmour (se não me engano, foi o primeiro LP com o Gilmour...). dá pra notar o pé no psicodelismo dos anos 60, com uma levada rock característica, e a presença das primeiras longas viagens musicais que marcariam a banda nos anos 70.
e saudades também do que nunca vi: os piratões, os "bootlegs", que eram difíceis, raros, caros...
filé...
VII.
se o momento realmente não é de derrubada dessa estrutura complexa-sólida, não vejo por que não propagar a idéia de uma outra política já neste momento, no contexto mesmo das indignações diante da política-cênica do Estado liberal.
as tais ondas de corrupção estão aí desde os tempos de colônia... e vão continuar tragando todo mundo e alimentando o teatro da imprensa "indignada", guardiã das sagradas "instituições democráticas" e do "Estado de direito" que tanto agradam aos magnatas da comunicação e sustentam o nível de vida pequeno-burguês dos jornalistas.
todas as tímidas conquistas rumo a esta "democracia" que aí está foram obtidas depois de muita pressão. todas as instituições que aí estão são produtos sócio-históricos, não caíram do céu, nem têm atestado de imortalidade.
assim como surgiram, podem ruir... historicamente.
propor/propagandear a radicalização/criação de novos mecanismos de participação faz sentido, mesmo que as tais "condições objetivas" nos mostrem, de fato, que é coisa de difícil implementação imediata.
mesmo assim, prefiro lutar com os debaixo... e à esquerda.
VIII.
bom... se alguém aí gosta, vai um presente.
um link pra links que levam a... 60 discos do P.F.!
http://sharez.cn/article.asp?id=11012
aproveitem! viciem-se também!
IX.
será que estou sendo chato demais com o sistema político atual?
será que também não é necessário utilizá-lo como mais um espaço de luta?
sim... acho que deve ser usado.
em determinadas situações, taticamente falando, pode servir para implementar leis e práticas menos injustas.
em alguns casos,devemos agir de modo realista (e me refiro especificamente aos anarquistas, os mais críticos em relação ao sufrágio universal burguês) e até usar o voto ou alguma outra forma de intervenção direta no Estado.
comentava com um amigo sobre a opção de voto de grupos anarquistas dos EUA para Al Gore, candidato democrata há pouco tempo. foi algo tópico, localizado, para deter a escalada do porco-fascista Bush... ninguém estava iludido que o sistema iria se modificar com Gore... nenhum deles deixou de condenar a estrutura como um todo. era uma opção tática contra um cenário pior.
outro exemplo foi a polêmica participação dos anarquistas espanhóis no governo republicano durante a Guerra Civil (1936-39). não conheço bem os meandros da história, mas suponho que tenha sido uma opção frente ao avanço do fascismo. uma opção nitidamente tática.
obviamente, cabe discutir caso a caso... sem sectarismo.
X.
o engraçado é que eu tinha certas implicâncias com as músicas muito longas, de mais de dez minutos...
era a aborrecência punk... ouvido muito treinado com Ramones e Dead Kenedys em churrascos em que palcos eram muretas de varandas e o mosh era para uma platéia de meia dúzia de bebões que mal te seguravam.
outra coisa também era que o P.F. foi meio negligenciado quando o assunto era os 60/70. eu estava lá ouvindo sempre o Hendrix, o Velvet, The Who, Stones, Stooges... P.F. só de vez em quando.
agora noto que é impossível qualquer lista dos melhores dessa época sem pôr o P.F.
e geralmente eram os caras mais velhos que eu via curtindo as viagens tecladeiras, o blues etéreo...
ééé... agora sou eu. agora mais disposto a apreciar as longas viagens. :-)
(PS.: pero sin perder la ternura punk... jamás!)
XI.
até me esforço pra acreditar em alguns políticos com "boas intenções" (isso é um termo vago, de difícil definição... o que é ser "bem intencionado" na atual conjuntura), mas os vejo dar de cara num muro intransponível, ora sendo descaradamente cooptados e deslumbrados com o poder, ora se decepcionando e abandonando o barco. (lembro do caso de Proudhon na assembléia francesa...).
se há os que acreditam ainda e apoiam este canal como algo central nas lutas, ok... sigam em frente.
em vez de votar com os de cima, prefiro lutar com os debaixo, pressionando esse mesmo sistema e clamando para que ele enfim desmorone e ceda lugar para outro, mais radicalmente descentralizado e democrático.
em vez de entrar num partido qualquer, até os "de esquerda", prefiro me juntar a movimentos sociais ativos, conectados à idéia/prática de ação direta e funcionando internamente com base na horizontalidade de decisões.
um "louco" a dar murros no ar?
pode ser...
mas é assim que me sinto saudável.
XII.
"The piper at the gates of dawn"...
salve Barret (1946-2006)!
viva a loucura sã!
XIII.
a militância por outra política foi difícil nestas eleições, pois o balaio de gatos defendendo o protesto nas urnas (com o nulo ou a abstenção) reunía alguns porcos fascistas de sempre, com saudades da falecida ditadura... ou de alguma outra coisa bem dura.
um balaio que também reunía os que defendiam o nulo como um recado a estes políticos de agora, apostando ainda numa renovação dos quadros.
no comitê pró-voto nulo, tínhamos a todo momento de nos confrontar com as matérias tendenciosas da porca-mídia corporativa (ou "porcorativa"?!), tentando desqualificar o protesto como "apolítico", "alienado"...
em meio a perguntas capciosas, recursos aos porcos-especialistas-de-sempre e edições mistificadoras, os membros do grupo tinham de reafirmar a todo momento a não centralidade do tema "voto nulo" em nossa campanha (ou seja: voto nulo pelo voto nulo), e sim o protagonismo da questão "outra política".
estávamos e estamos sendo políticos, e democratas... muito mais do que os porcos-de-terno-no-congresso possam imaginar.
o direito ao voto nulo de protesto, o direito ao voto não obrigatório, o direito à participação efetiva nos assuntos que nos dizem respeito: tudo era desqualificado, encoberto e posto num mesmo saco de "apoliticismo", "inconstitucionalidade" e "desserviço à nação".
nada mais porcamente mistificador.
XIV.
um link para aprofundar essas questões:
http://votonulorj.blogspot.com
XV.
será que o sistema já não está bom, só faltando reformar uma coisinha aqui e ali?
veja só... a legislatura que virá parece estar primando pela "renovação" do quadro político.
sangue novo no congresso! vários especialistas que farão o máximo para legislar sobre os mais variados assuntos.... eles são polivalentes, suponho.
veja só... Frank Aguiar, um especialista em forró brega; Clodovil, um especialista em queimação de rosca...
e de volta um político que sempre fez um papel exemplar: Maluf, um especialista em beijar bota de ditadores.
XVI.
Por favor, Castoriadis... me jogue algumas frases salva-vidas, antes que eu me afogue nessa lavagem de porcos chamada "democracia representativa":
"É evidente que o que caracteriza o mundo contemporâneo são as crises, as contradições, as fraturas; mas aquilo que realmente me chama a atenção é a mediocridade. Tomemos a discussão entre esquerda e direita. Ela perdeu o sentido. Tanto uns como outros dizem a mesma coisa."
"Os dirigentes políticos são impotentes. A única coisa que podem fazer é seguir a corrente, ou seja, aplicar a política ultraliberal da moda. Os socialistas não fizeram outra coisa desde que voltaram ao poder. Não se trata de políticas, mas de políticos, no sentido de politiqueiros. Gente que caça voto de toda e qualquer maneira. Não têm programa algum. O seu objetivo é permanecer no poder ou voltar ao poder e para isso são capazes de tudo."
"Nada garante que quem sabe governar sabe como fazer para chegar ao poder. No tempo da monarquia, para chegar ao poder era necessário bajular o rei, cair nas graças de Madame Pompadour. Hoje em dia, na nossa "pseudodemocracia", a arte de chegar ao poder consiste em ser fotogênico na televisão, em saber farejar a opinião pública. Digo "pseudodemocracia" porque sempre achei que a democracia dita representativa não é uma democracia de verdade."
"Não que haja necessariamente fraude nas urnas. A eleição é trambicada porque as opções se definem previamente. Nunca se indaga ao povo quais são os assuntos sobre o quais ele quer votar. Dizem-lhe, por exemplo: "Vote a favor ou contra Maastricht". Mas quem é que elaborou o tal tratado de Maastricht? Certamente não foi o povo."
"Ao invés das pessoas se habituarem a exercer todo tipo de responsabilidade e a tomar iniciativas, habituam-se a seguir cegamente ou a votar nas opções que lhes são apresentadas."
"O que prevalece, hoje, é a resignação, mesmo entre os representantes do liberalismo. Qual é o grande argumento que se ouve agora? "Talvez seja ruim, mas a alternativa seria pior." E isso imobilizou um bocado de gente. Ficam dizendo, para seus botões: "Se a gente fizer muita onda, vai acabar num novo Gulag." É isso que existe por trás deste esgotamento ideológico; e dele só sairemos se uma crítica poderosa ao sistema realmente vier a ressurgir. Junto com um renascimento da atividade e da participação das pessoas."
"As instituições dos dias de hoje enxotam, afastam, dissuadem as pessoas de participar. E, no entanto, em matéria de política, a melhor educação é a participação ativa - o que exige uma transformação das instituições de modo que essa participação passe a ser permitida e incentivada."
XVII.
isso aí, meu brother. valeu mesmo pelas palavras.
que sejam sempre rememoradas, realimentando o "imaginário social radical" que move as rodas da história.
leiam na íntegra, por favor:
http://www.pfilosofia.pop.com.br/04_miscelanea/04_17_lmd/lmd002.htm
basta de mediocridade!
XVIII.
e V, diante da estátua da justiça, trava com ela um diálogo imaginário:
- perdoe-me a intromissão, talvez a senhorita pretendesse passear... apenas desfrutar a paisagem. não importa. creio que é chegado o momento de uma breve conversa. ahh, eu me esqueci de que não fomos apresentados. madame justiça... este é V. V... esta é madame justiça. olá, madame justiça.
"boa noite, V."
- pronto. agora já nos conhecemos. para ser sincero, outrora fui um admirador seu. até imagino o que está pensando... "o pobre rapaz tem uma queda por mim... uma paixão juvenil." eu a admirava, apesar da distância. ainda criança, passando pela rua, eu admirava sua beleza. por favor, não pense que se trata apenas de atração física. em absoluto. eu a amava como pessoa, como ideal. isso foi há muito tempo. agora, confesso que há outra...
"o quê? que vergonha, V! traindo-me com uma meretriz de lábios pintados e sorriso vulgar!"
- eu, madame? permita-me uma correção. foi a sua infidelidade que me arremessou nos braços dela! ah! ficou surpresa, não? pensou que eu desconhecia suas escapadelas? enganou-se. eu sei de tudo. na verdade, não me surpreendi quando soube que você flertava com homens de uniforme.
"uniforme? e-eu não sei do que está falando. sempre foi você, V... o único em minha vi--"
- mentirosa! meretriz! ousa negar que se deixou envolver por ele, com suas braçadeiras e botas? e então? o gato comeu sua língua? foi o que pensei. muito bem. a verdade foi revelada. você não é mais minha justiça. é a dele. recebeu outro em sua cama. faça bom proveito de seu novo amante.
"snif! snif! q-quem é ela? como se chama?"
- seu nome é anarquia. e ela me ensinou mais como amante do que você imagina. com ela aprendi que não há sentido na justiça sem liberdade. ela não faz promessas e nem deixa de cumpri-las como você. eu costumava me indagar por que jamais me olhou nos olhos. agora eu sei. por isso, adeus, cara dama. nossa separação não me entristece, uma vez que não é a mulher que amei outrora.
[...]
{Alan Moore - "V de Vingança"}
XIX.
"A liberdade é difícil. Porque é muito fácil a gente se deixar levar. O homem é um animal preguiçoso. Há uma frase maravilhosa de Tucídides: "É preciso escolher: descansar ou ser livre." E Péricles dizia, ao povo de Atenas: "Se quiserem ser livres, vocês têm que trabalhar." Não podem descansar. Não podem ficar plantados na frente da tevê. Vocês não são livres quando estão na frente da tevê. Vocês se imaginam livres ao apertarem como idiotas os botões do controle remoto, mas vocês não são livres; isso é uma falsa liberdade. Liberdade é atividade. E a liberdade é uma atividade que ao mesmo tempo se autolimita, ou seja, sabe que pode fazer tudo, mas sabe que não deve fazer tudo. Esse é o grande problema da democracia e do individualismo."
(C. Castoriadis, 1922-1997)
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