segunda-feira, outubro 30, 2006




1.

a "democracia", ah... a "democracia".

o "espetáculo da democracia"...

enchem a boca, marqueteiros e politiqueiros, cientistas políticos e comentaristas de grandes jornais, intelectuais-xamãs do consenso fabricado... no fundo a mesma corja de burgueses, das elites, que devem a todo momento evitar o movimento sempre perigoso da massa de despossuídos que o sistema cospe diariamente.

me perdoem se minhas referências são repetitivas, mas devo lembrar Castoriadis, sob pena de não atribuir justamente um pensamento a quem lhe pertence: eles habilmente devem nutrir todo esse "imaginário social" para justificar sua permanência e seu fechamento a uma intervenção mais direta.

contudo, ainda que boa parte das "instituições explícitas de poder" conte com o auxílio daquelas instituições de poder que implicitamente estão presentes nos que compõem a sociedade (o que explica a legitimidade do que aí está e o imprescidível apoio da opinião pública), ainda assim irrompem tensões que um imaginário apenas não é capaz de debelar.

ainda existem aqueles que insistem em, a todo momento, rasgar o véu...

o Estado e seus bibelôs queridos vêm à tona sempre que algo foge do controle, das regras do jogo instituídas. policiais, máfias, paramilitares e fascistas de toda a hora, mesmo que mal-disfarçados de democratas, vêm para cometer suas atrocidades, suas sujeiras, algo que vem sistematicamente, historicamente, sendo praticado pelos herdeiros daquela ordem que foi revolucionariamente instituída, da França aos Estados Unidos, em fins do século XVIII.

a burguesia tem de fechar a caixa de pandora que ajudou a abrir ao propagar os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade; de liberdade de imprensa e reunião; dos direitos do ser humano, etc... porque, afinal de contas, sustentou seu castelo de bonitas idéias num alicerce de podridão: o modo de produção (de vida, de existência...) capitalista.

o que ocorreu com o jornalista do CMI não é nada novo: é irritantemente velho. se para eles morreu a história, morreu o conflito de classes, morreu a luta dos trabalhadores... tudo taxado de "ultrapassado", "anacrônico", tratados como velhas novidades do museu fetichista da pós-modernidade, onde tudo vira espetáculo, onde tudo é enlatado, onde tudo é desistoricizado, destituído de seu conteúdo explosivo... aí, quando tudo na "sociedade do espetáculo" (Debord) falha, vêm os velhos métodos que não morreram, que não saíram de moda para as elites cínicas: assassinatos, torturas, pogroms, campos de concentração, censura a uma mídia independente...

vou parar por aqui. estou indignado, movido pelo ódio, "rage against the machine" (não à-toa a banda é tão boa...).

o meu papel aqui é divulgar. é pressionar.

e ir às ruas. manter acesa a memória da luta. celebrar a resistência em Oaxaca.

que aqui no Rio haja mobilização... é o que espero.

solidariedade e apoio mútuo...

mais informações abaixo.

repassem, protestem, exijam.


2.

(notícia recebida por e-mail):

Jornalista da imprensa independente e ligado a movimentos sociais
brasileiros é assassinado no México

Por favor, repasse com urgência.

Prezados amigos e amigas,

Nesta sexta-feira, dia 27 de outubro, recebemos a triste notícia do
assassinato do amigo, jornalista e voluntário do Centro de Mídia
Independente Brad Will por forças paramilitares na cidade de Oaxaca, no
México. Chamamos a todos os defensores de uma imprensa livre e
independente e aos movimentos sociais brasileiros para uma manifestação
no consulado geral do México em São Paulo, na próxima terça-feira, dia
31 de outubro, às 13 horas. O consulado está localizado na Rua Holanda,
274, cerca de 6 quadras da esquina da Avenida Brasil com a Rua Colômbia
(continuação da Augusta).

Brad era um jornalista americano, importante colaborador da imprensa
independente no Brasil e na América Latina e aliado dos movimentos
populares. No Brasil, por exemplo, sua colaboração foi decisiva para a
denúncia do massacre contra os sem-teto da ocupação Sonho Real em
Goiânia. As imagens que registrou da ocupação e do ataque sofrido pelas
forças policiais do estado de Goiás chamaram a atenção do mundo para a
situação dos sem-teto.

Brad também cobriu os mais importantes processos sociais do continente
nos últimos anos, com vídeos e matérias sobre a rebelião dos Aymara na
Bolívia, as assembléias e piquetes na Argentina e a "Outra Campanha" no
México. Mas foi seu último trabalho que o levou à morte.

Brad estava cobrindo o processo de resistência e repressão à Assembléia
Popular dos Povos de Oaxaca (APPO), uma coalizão de grupos e movimentos
sociais formada após a greve dos professores naquela histórica cidade
mexicana. A APPO pede a renúncia do governador do estado de Oaxaca
Ulises Ruiz Ortiz, acusado de corrupção e fraude eleitoral e defende a
substituição do governo do estado por assembléias populares.

Brad estava cobrindo uma barricada organizada pela APPO quando ela foi
atacada por paramilitares ligados ao governo. Fotos de um jornalista do
jornal local El Universal e as próprias imagens registradas por Brad
antes de morrer permitiram a identificação dos assassinos.

O governo mexicano está utilizando a morte de Brad Will como motivo para
o envio de tropas federais à cidade e a violência contra militantes da
APPO por paramilitares tem aumentado nos últimos dias. Assim, pedimos a
todos para manifestarem-se com urgência, seja participando do ato desta
terça-feira, seja escrevendo às autoridades mexicanas pedindo imediato
cessar das violações dos direitos humanos contra a população civil de
Oaxaca, seja escrevendo às autoridades brasileiras exigindo uma firme
posição do governo brasileiro condenando o massacre de civis naquela cidade:

Exmo. Sr. Andrés Valencia Benavides
Embaixador do México no Brasil
embamexbra@cabonet.com.br
SES - Av. das Naçôes – Qd. 805 - Lote 18
CEP 70412-900
Brasilia, D. F.
Tel. (55-61) 3244.1011 / 3244.1211 / 3244.1411
Fax 3244.1755 / 3244.3866

Exmo Sr. Celso Amorim
Ministro de Relações Exteriores (MRE)
celsoamorim@mre.gov.br
Esplanada dos Ministérios - Bloco H
CEP: 70 170-900
Brasília-DF
Fone: 3411-6801
Fax: 3411-6993

Video de Brad filmando a barricada da APPO e sua própria morte:
http://video.indymedia.org/en/2006/10/542.shtml

Vídeo com imagens de Brad denunciando a violência contra os sem-teto em
Goiânia:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/04/315460.shtml

Última matéria escrita por Brad para o CMI Nova Iorque:
http://nyc.indymedia.org/en/2006/10/77760.html

Outros consulados do México no Brasil:

CONSULADO GERAL DO MÉXICO NO RIO DE JANEIRO
e-mail: comexrio@domain.com.br
Cônsul: Juan Andrés Ordoñez Gómez
Praia de Botafogo 242, 3o Andar.
Botafogo
CEP. 22250-040 Rio de Janeiro, RJ.
Tel.: (0xx21) 3262 3200
Fax: (0xx21) 3262 3211

CONSULADO HONORÁRIO DO MÉXICO EM BELÉM
Cônsul: Dr. Paulo Brito Chermont
e-mail: chermontadv@uol.com.br
Avenida Conselheiro Furtado 585
Casa A, Bairro Batista Campos.
CEP. 66025-160 Belém – PA
Tel.: (0xx91) 3223 8967
Fax: (0xx91) 3241 7407

CONSULADO HONORÁRIO DO MÉXICO EM FORTALEZA
Cônsul: Dr. João Soares Neto
e-mail: cmexico@planos.com.br
R. São Paulo No. 1941
Jacareacanga
CEP. 60030-101 Fortaleza – CE
Tel.: : (0xx85) 3238 3800
Fax: (0xx85) 3238 3800

CONSULADO HONORÁRIO DO MÉXICO EM MANAUS
Cônsul: Sr. Armando Clovis Prado de Negreiros Mendes
e-mail: chmexico@novidade.com.br
Rua Fortaleza 585
Adrianópolis
CEP. 69057-080 Manaus – AM
Tel.: (0xx92) 3663-5050
Fax: (0xx92) 3663-5077

CONSULADO HONORÁRIO DO MÉXICO EM RECIFE
Cônsul: Dr. Antônio Fernando de Castro Dubeux
e-mail: iaradubeux@yahoo.com.br
Rua Aquidabã, nº 20, aptº 1401
Boa viagem
CEP 51030-280 Recife Pernambuco
Tel.: (0xx81) 3083 1760/1430
Fax: (0xx81) 3338 1979

CONSULADO HONORÁRIO DO MÉXICO EM SÃO LUÍZ
Cônsul: Dr. Adalberto Ribamar Barbosa Gonçalves
e-mail: goad@elo.com.br
Rua dos Afogados 107
Centro
CEP 65010-020 São Luiz – MA
Tel.: (0xx98) 3232 6732
Fax: (0xx98) 3232 6232

Agradecemos a mais ampla divulgação desta mensagem.

Pablo Ortellado

Centro de Mídia Independente
São Paulo


Brad
por Pablo Ortellado

Na tarde desta sexta-feira, dia 27 de outubro, recebemos com muita
tristeza a notícia da morte do nosso companheiro Brad Will.

Eu conheci o Brad em algum momento em 2002 nas mobilizações do movimento
de resistência global. Brad tinha sido despejado de uma ocupação em Nova
Iorque, processou a polícia por abuso e com o dinheiro que recebeu
empreendeu uma longa viagem pela América Latina. A esta viagem em 2002
depois seguiram-se outras e ele acompanhou de perto nos últimos anos
todos os acontecimentos importantes do continente: as mobilizações
contra os organismos multilaterais em Fortaleza e Quito; a resistência
do movimento sem-teto em Goiânia; as mobilizações dos Aymara em El Alto,
na Bolívia; os piquetes e as assembléias populares na Argentina e,
finalmente, a comuna de Oaxaca, no México.

Brad estava perseguindo a história do nosso continente e sua morte,
aparentemente por forças paramilitares que reprimiam a comuna, é de uma
injustiça dolorida. Toda morte parece inexplicável para os que ficam,
mas a morte de um jovem, a morte por assassinato e a morte pelos ideais
é especialmente imperdoável.

A morte de Brad não deixa de ser digna das opções que fez. Brad morreu
tentando mostrar ao mundo o que a mídia empresarial não mostra; morreu
apoiando os companheiros de Oaxaca que estão construindo a democracia
direta; morreu na América Latina que é onde estavam as suas esperanças.
Se pudesse ter escolhido um lugar, uma causa e uma circunstância,
possivelmente teria escolhido morrer assim: em Oaxaca, na América
Latina; na defesa do processo revolucionário e com uma câmera na mão.

Saudades, camarada, saudades!

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