sábado, outubro 06, 2007



"Não viva no passado, não sonhe com o futuro, concentre a mente no momento presente."

(Buda)

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Ser um cínico é muito vantajoso.

Mas é mais fascinante ser um sagaz pronto a ironizar.

A ironia que se une com a fúria necessária, o ódio consciente contra o que há de mais escroto, irracional.

Temos o direito a alguma dose de utopia, na veia estropiada pelo ópio doce do consumo, da alienação, da birita, do poder, da grana...

Temos o direito ao movimento, ao nadar contra a corrente, ao contra-atacar, ao contra-informar.

O movimento coletivo, no meio do eu.

O sentido da vida é o agora, o fazer, o agir.

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Quero compartilhar um texto meu, a quem interessar.

Copyleft, estimulada a reprodução (mas citar a fonte é de bom tom).

Conta um pouco de histórias marginais, pequenas resistências.

Segue o link:

Texto.

Foi feito no contexto da apresentação que fiz no Arquivo Geral.

[O Arquivo disponibiliza textos de outras palestras na seção "Quartas no Arquivo"].

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É um texto que aborda a questão da imprensa alternativa -- ou, se quiserem, "marginal", "underground", "de contra-informação"...

Algo que não se reduz (ou não deveria se reduzir) ao passado recente. É uma questão atualíssima.

Já falei aqui inúmeras vezes da necessidade de resistência e de luta simbólica mesmo, pois o choque de classes também se desenrola nos signos, na comunicação, na indústria cultural.

Hoje é impossível pensar em capitalismo sem perceber que a esfera do "cultural" (representações, costumes, ideologias, manifestações artísticas, imprensa, televisão etc.) é talvez a mais importante para manter relativamente coesa a sociedade em torno de um imaginário sócio-histórico que precisa se reproduzir, legitimando-se a todo instante. Daí que me soa absurda a relação que muitos fazem de modo mecânico: as mentalidades são determinadas pela estrutura econômica. Vejo muito mais co-relação, complementaridade, do que "determinação".

É atual e vital o exemplo dos alternativos de 40, 30 ou 20 anos atrás. Ao imaginário instituído -- que naturaliza a exploração, que julga o caminho neoliberal como único possível -- devem ser detonados imaginários radicais, alternativos, utópicos.

E o jogo é incessante, pois os signos são apropriados, ressignificados, perdendo força de contestação.

Jogo incessante.

Insistem em "matar" a história, a luta de classes, as desigualdades, o imperialismo. Negam o disenso. Impossibilitam a alternativa, a utopia.

Um jogo incessante.

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Nesta quinta (11/10) parto para Salvador. Fui convidado a falar num seminário que celebra justamente um dos exemplos mais bacanas da resistência contra a ditadura no Brasil: o jornal O Inimigo do Rei (IR).

O problema é que há experiências que a própria historiografia das esquerdas não ressalta.

O IR foi uma das publicações marginais mais duradouras, num tempo em que os jornais alternativos suavam para passar do primeiro ano de vida. IR foi publicado de 1977 a 1988, com alguns hiatos, chegando a ter distribuição nacional (graças a uma rede informal de colaboradores que seguia a prática da autogestão).

Começou como panfleto de estudantes anarquistas da Universidade Federal da Bahia (UFBA): "O Fantasma da Liberdade". Eram estudantes que já estavam cansados de ver o movimento estudantil tomado pelos partidos marxistas-leninistas. "Eles eram mais autoritários com a gente do que a própria ditadura", lembrou Tony Pacheco, um dos fundadores de IR.

Segundo Tony, os estudantes comunistas tomavam conta do diretório acadêmico, ficando inclusive com as chaves. Curiosa semelhança com a historiografia das esquerdas de tendência marxista, que tratou de fechar a porta da história para experiências alternativas a seu projeto de sociedade. Daí que, quando falamos de ditadura no Brasil, "resistência de esquerda" acabou virando sinônimo de grupos marxistas. E imprensa alternativa se reduziu praticamente a "Pasquim", "Movimento" e "Opinião". E ponto.



Mas a experiência anarquista na ditadura foi solenemente ignorada. Quando lembrada, uma notinha aqui, um registrozinho ali. Caso do livro de Bernardo Kucinski ("Jornalistas e revolucionários"), que é um ótimo resumão para entender a imprensa alternativa no Brasil.

Kucinski até fala de IR, mas o coloca no balaio dos jornais "existencialistas", de "ruptura estética" etc, etc, o que minimiza a crítica ferina do IR, bem ao estilo de um conterrâneo seu das antigas: Gregório de Matos, o Boca do Inferno.

Assim como o poeta da Salvador colonial, IR marcou presença por sua verve satírica, sua vocação para polemizar. Unia toda a agenda libertária dos anos 60/70 (contracultura, revolução comportamental, liberdade sexual, etc) com referências de outras lutas: o anarco-sindicalismo, a autogestão, o socialismo libertário etc. Não negava a história, a necessidade de intervenção política, em troca de um escapismo que foi típico da "geração desbunde".

Não bastasse isso, nadou contra a corrente majoritária das esquerdas ao não bater palma passivamente ao processo de "abertura" e de "anistia". Seus editores e colaboradores enxergavam no processo o velho movimento de troca de atores na direção do Estado, sem mudanças substanciais ou participação popular efetiva.

Enquanto boa parte da esquerda se articulava para ocupar os espaços reabertos da política institucional, IR talvez tenha sido um dos poucos alternativos a chamar a atenção, já no início dos anos 80, para as contradições do recém-formado Partido dos Trabalhadores. Num texto de Ideal Peres, por exemplo, já se fazia referência ao perigoso jogo do poder em que se metia o então presidente do sindicato dos metalúrgicos, Luís Inácio da Silva. Deu no que deu.



Enfim... por tudo isso vale a pena conhecer e registrar a experiência dos baianos de IR, que acabaram estimulando uma rede de contatos em todo o país, o que fez o jornal chegar ao Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio, Recife, Belém, João Pessoa...

Daí que bato palmas para o evento que celebra essa memória e também estimula a reflexão atual para as possibilidades das mídias contra-hegemônicas (basta uma olhada no primeiro dia do seminário).

Sei que a maioria dos meus seis leitores é do Rio... Mas, quem sabe, pode divulgar aí para quem estiver lá perto na ocasião.

É isso aí...

Na volta, venho com algumas crônicas com vatapá e acarajé.

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Para quem ficou curioso sobre IR, vale uma olhada no blog que reproduz trechos de matérias, dá link para entrevistas postadas no Youtube e até disponibiliza alguns exemplares digitalizados.

http://oinimigodorei.blog.terra.com.br


Abaixo segue a programação do seminário:


O INIMIGO DO REI (1977-1988): IMPRIMINDO UTOPIAS ANARQUISTAS


LOCAL: AUDITÓRIO DA FACULDADE DA CIDADE DO SALVADOR
ENDEREÇO: EDIFÍCIO NOBRE, 3º ANDAR, S/N, PÇ. DA INGLATERRA, COMÉRCIO, SALVADOR, BAHIA.

Dia 10 de Outubro (Quarta-Feira)

18h30min – Abertura do Seminário;

19h00min – Palestra 1 - Rádio Web, com Grupo da Radio-Web da FACED-UFBA;

19h30min – Palestra 2 - Rádios Livres e Comunitárias, com Édilo Simões Filho (Graduado em Comunicação Social na UNEB);

20h00min – Intervalo

20h30min – Mesa com o tema: Possibilidades e Necessidades de uma Comunicação Alternativa, com Ricardo Liper (Mestre em Filosofia pela UFBA), Eduardo Nunes (Mestre em Sociologia pela UFBA, Doutor em Geografia pela Universidade de Barcelona, Professor do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Educação da UNEB) e Robson Avelino (Estudante, Colaborador do CMI na Bahia).

22h00min – Encerramento

Dia 11 de Outubro (Quinta-Feira)

18h30min – Apresentação de Vídeo-Documentário sobre o jornal O Inimigo do Rei (Protótipo).

19h00min – Palestra 1 – João Henrique Oliveira (Mestre em História Social pela UFF-RJ) – O IR e a Contracultura do Jornalismo Alternativo;

19h30min – Palestra 2 – Waldir Paganotto (Mestre em História pela UNESP-SP) – O Pensamento Libertário no Brasil: O Inimigo do Rei;

20h00min – Intervalo

20h30min – Debate com mesa: A Experiência Autogestionária no Jornal O Inimigo do Rei - Tony Pacheco (Jornalista, Radialista e Psicanalista, Trabalhou na Tribuna da Bahia e A Tarde) e Hilda Braga (Socióloga pela UFBA, Pesquisadora do Instituto Sócio-Ambiental de Valéria em Salvador);

22h00min – Encerramento.

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2 Comments:

Blogger Mr. Durden Poulain said...

Legal companheiro! Beba muita água de coco e anarquia...

O inimigo do rei realmente é um símbolo de uma resistência que nos inspira de alguma forma a continuar a lutar em tempos de ditadura do "pensamento único" como bem sublinha o velho Castoriadis...

Abraços!

8:58 PM  
Blogger Fernando Beserra said...

Muito foda ein...
podia ter no RJ também, =P

11:34 AM  

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